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Efeito dos flavonoides no Sistema Nervoso Central

Camila R. Chaves
22 de outubro de 2020
Revisão: Leopoldo C. Baratto

Flavonoides são substâncias fenólicas produzidas pelo metabolismo secundário de muitas plantas. Esses metabólitos não são essenciais para a sobrevivência da planta, mas apresentam algumas propriedades que garantem vantagens adaptativas como o aumento da resistência a agentes estressores e patógenos. Portanto, nas últimas décadas tem se tornado interessante estudar as propriedades químicas desses compostos na busca de novos agentes farmacológicos.

A estrutura química básica dos flavonoides contém 15 átomos de carbono num sistema composto por três anéis (A, B, C). De acordo com pequenas diferenças estruturais, como por exemplo o grau de oxidação das moléculas, eles são divididos em subgrupos, cujos principais são: flavonas, flavonois, flavanonas, isoflavonoides, antocianidinas e flavanas. São encontrados em diversas espécies de frutas, vegetais, cereais, chás e vinhos e representam o grupo de substâncias polifenólicas mais abundantes na nossa dieta. Após serem ingeridos, passam pelo trato gastrointestinal e fígado e, em seguida, são transportados pela corrente sanguínea, onde conseguem circular por todo o corpo. Na última década foi demonstrado que eles são capazes de ultrapassar a barreira hematoencefálica e chegar ao cérebro, mas ainda se sabe muito pouco sobre os mecanismos bioquímicos por trás desse processo.


Uma vez no cérebro, os flavonoides podem se ligar a vários sítios diferentes, sendo os receptores de adenosina, GABA, opioides e nicotínicos os principais descritos até agora. Inclusive, foi demonstrado em um trabalho de 2004 que a hispidulina (uma flavona) é capaz de se ligar ao receptor GABA-A e atuar de forma análoga aos benzodiazepínicos, que são uma das classes de medicamentos psicoativos mais utilizados e estudados. Além de possuírem essa potencial atividade ansiolítica, também foram descritas propriedades neuroprotetoras como as da 7,8-di-hidroxiflavona (7,8-DHF), que é capaz de reduzir a morte neuronal em modelos de doenças neurodegenerativas. Podemos citar também trabalhos realizados pelo grupo da professora Flavia Gomes do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, que demonstraram efeito neuroprotetor dos flavonoides hesperidina e rutina. Foi visto que eles eram capazes de induzir a formação de novos neurônios através da diferenciação de progenitores neurais e reduzir a morte neuronal através das vias de sinalização MAPK e PI3K, tanto no Sistema Nervoso Central quanto no periférico. Por fim, outra importante propriedade dos flavonoides é sua atividade antioxidante, capaz de atuar no metabolismo energético mitocondrial. O cérebro é o tecido com a maior taxa de produção de espécies reativas de oxigênio (principais radicais livres do organismo) e menor atividade das enzimas antioxidantes, que são responsáveis por fazer a depuração dessas espécies, se tornando assim um potencial alvo de dano oxidativo, como vemos em doenças neurodegenerativas. Nesse contexto, os flavonoides vêm sendo utilizados como sequestradores de espécies reativas de oxigênio, tornando-as menos reativas como, por exemplo, o peróxido de hidrogênio.


Várias plantas medicinais possuem flavonoides com ação sobre o Sistema Nervoso Central. É o caso das espécies de maracujá (Passiflora sp.) e camomila (Matricharia chamomilla), ambas usadas como sedativas e ansiolíticas, e Ginkgo biloba, que atua melhorando a cognição e é também antioxidante. Essas plantas são ricas em flavonoides como apigenina, luteolina, quercetina, kaempferol, entre outros. Nesse contexto, já podemos ver a importância de continuar estudando os flavonoides para a formulação de novos medicamentos e incentivar o consumo de uma dieta rica nesses compostos a fim de prevenir e ajudar no tratamento de transtornos de ansiedade e doenças neurodegenerativas.

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