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Abricó-de-macaco: planta ornamental e medicinal

Carlos Capelini
11 de Maio de 2023
Revisado por Leopoldo C. Baratto

A Couroupita guianensis Aubl., mais conhecida como abricó-de-macaco, é uma planta nativa da Amazônia e com origens de diversas partes do mundo. Na Índia, por exemplo, é vista como uma árvore sagrada, sendo usada até mesmo em templos e jardins botânicos para adoração e decoração. A curvatura de sua flor lhes remete à Linga, uma cobra sagrada protegendo o Lorde Shiva.


Sua catalogação foi feita pelo botânico francês Jean-Baptiste C. F. Aublet em 1755, tendo sua origem creditada na Guiana Francesa, na América do Sul. Ao passar dos anos, observou-se que suas flores têm uma aparência exótica e possuem uma forte fragrância que é ainda mais intensificada à noite e no começo da manhã, além de ser facilmente reconhecida pelos seus frutos redondos pendentes em cachos que lembram castanhas.


Integrante da família Lecythidaceae (a mesma da castanha-do-Pará), o abricó-de-macaco tem papel influente nas culturas rurais e tribais como uma planta medicinal, atuando como anti-inflamatório e até mesmo antimicrobiano. Para os indianos, todas as partes da planta podem ser utilizadas para tratar um grande leque de doenças humanas, tais como: hipertensão, malária, problemas renais e estomacais, alergias e muitos outros. Seus frutos aparentemente são ricos em alcaloides indólicos, como triptantrina e indirubina. Entretanto, a composição química pode variar de acordo com seu nível de maturação. A indirubina é originada pela mudança de um átomo de hidrogênio do também alcaloide índigo, encontrado em suas sementes. O índigo é um pigmento muito conhecido na indústria têxtil pelo seu uso na coloração de calças jeans devido à sua cor azul intensa.


Seu esplendor também é muito apreciado no paisagismo como, por exemplo, por Roberto Burle-Marx, arquiteto paisagista brasileiro, responsável por introduzir o paisagismo modernista no Brasil. Ele usou diversas plantas no Rio de Janeiro que se perpetuam até hoje e a C. guianensis foi uma de seus espécimes favoritos. Ela se encontra em grande quantidade no Aterro do Flamengo e Burle-Marx dizia que seu plantio em conjunto nas frentes dos jardins produziam um efeito notável de beleza. Luiz Emygdio de Mello Filho, que foi diretor do Museu Nacional e botânico, também comenta sobre o abricó-de-macaco no paisagismo da Cidade Maravilhosa: “Na frutificação, a queda de seus enormes frutos globosos, com peso de alguns quilos, não recomenda o seu uso como árvore de rua, embora no Rio de Janeiro, esse erro tenha sido cometido. Como árvore de parque impressiona por sua beleza e por seu aspecto bizarro.”


Na literatura, podemos encontrar revisões que agregam à planta propriedades microbianas e anti-inflamatórias, como já citadas. Adicionalmente, é observável sua atividade contra helmintos e diabetes, além de ser capaz de inibição da formação de placas ateroscleróticas, que ocorre pela deposição de lipídios oxidados nas paredes das artérias causando um bloqueio no fluxo sanguíneo, capaz de afetar o sistema circulatório como um todo. Recentemente foi publicado um estudo onde encontrou-se três substâncias no extrato de C. guianensis, sendo eles: (1) ácido betulínico, que possui propriedades anticancerígenas; (2) ácido oleanólico, com atividades farmacológicas relacionadas a diabetes, câncer e doenças cardiovasculares, incluindo a aterosclerose; (3) friedelina, um potente antimicobacteriano, anti-inflamatório, analgésico, entre outras funções. Por fim, neste mesmo estudo, foi encontrado um composto já descrito para a espécie, a beta-amirina, conhecida por ter uma ponderada atividade antioxidante, anti-inflamatória e anticancerígena.


Por se tratar de um vegetal lenhoso, seu ciclo de vida não acompanha o consumo humano, que utiliza de sua madeira para diversas produções e, com isso, a espécie corre grandes riscos de ser extinta. Ao mesmo tempo, um estudo realizado na ESALQ-USP verificou que a C. guianensis consegue germinar em espectros de luz fotossinteticamente ativos, o que pode ser uma alternativa para o crescimento in vitro e, assim, ter uma chance de não se extinguir.


Referências:


BEGUM, R. et al. Secondary metabolites (Triterpenes) from Couroupita guianensis. Oriental Pharmacy and Experimental Medicine, Piauí, v. 9, n. 2, p. 200-205, jan./2009.


DEMÉTRIO, C. A. et al. In vitrogermination of Abricó-de-Macaco (Couroupita guianensis Aubl.) zygotic embryos in different culture media and light spectra. Ciência Rural, v. 52, n. 1, p. e20190906, 2022.


HORTO BOTÂNICO. Couroupita guianensis. Disponível em: https://www.museunacional.ufrj.br/hortobotanico/arvoresearbustos/Couroupitaguianensis.html. Acesso em: 10 mai. 2023.


MAGALHÃES, C. F. C. B. et al. Avaliação in silico do potencial anti-inflamatório de alcaloides indólicos presentes nas sementes de Couroupita guianensis. Research, Society and Development, Piauí, v. 10, n. 2, p. 1-11, fev./2021.


NGO, Q. L.; NGUYEN, P. T.; NGUYEN, V. M. E.; NGUYEN, T. N. T.et al.Isolation and identification of triterpenoid compounds from Couroupita guianensisAubl. Can Tho University Journal of Science, 15, n. 1, p. 91-97, 03/30 2023.


SHEBA, L. A.; ANURADHA, V. An updated review on Couroupita guianensisAubl.: a sacred plant of India with myriad medicinal properties. J Herbmed Pharmacol, 9, n. 1, p. 1-11, 2020/1/1 2020.


VEJA. O gênio de Burle Marx, em três plantas surpreendentes do Aterro do Flamengo. Disponível em: https://veja.abril.com.br/coluna/jardineiro-casual/o-genio-de-burle-marx-em-tres-plantas-surpreendentes-do-aterro-do-flamengo. Acesso em: 10 mai. 2023.

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