Este site pertence a Leopoldo C. Baratto, fundador e coordenador do PlantaCiência. 2019. Jurubeba: os alcaloides esteroidais de S. paniculatum e suas propriedades farmacológicas
top of page

Jurubeba: os alcaloides esteroidais de S. paniculatum e suas propriedades farmacológicas

Hélio de Mattos Alves
27 de abril de 2023
Revisado por Leopoldo C. Baratto

Solanum paniculatumL., da família Solanaceae, conhecida como jurubeba é utilizada para tratamento de disfunções gástricas e prevenção de doenças hepáticas. Planta nativa da América do Sul, é empregada de diversas formas na medicina popular. Os estudos sobre os benefícios da jurubeba já começaram a ser feitos no século XIX, pelo naturalista alemão von Martius.


A espécie é reconhecida pelo Ministério da Saúde, constando da Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS), fazendo parte das 71 espécies vegetais com potencial de gerar produtos de interesse farmacêutico para o sistema único de saúde e ser explorada no contexto farmacológico, especialmente pelas preparações utilizando raízes e caules, os quais são indicados para o tratamento de distúrbios digestivos e hepáticos.


A família Solanaceae é composta de cerca de 115 gêneros e 2.400 espécies vegetais que estão distribuídas em todos os continentes. Várias espécies dessa família são de interesse econômico: batata (Solanum tuberosumL.), tomate (Solanum lycopersicumL.), berinjela (Solanum melongenaL.), pimentas (Capsicum spp.), tabaco (Nicotiana tabacumL.). Com mais de 1.200 espécimes, o gênero Solanum representa mais da metade da família Solanaceae. Outras espécies, por sua vez, são importantes como fonte de fitoterápicos: beladona (Atropa belladonnaL.), meimendro (Hyoscyamusniger L.) e trombeteira (Brugmansia suaveolens(Humb. & Bonpl. ex Willd.) Sweet.). O perfil químico da família  é caracterizado pela presença de flavonoides, esteroides, mas sobretudo pelos glicoalcaoides esteroidais (saponinas esteroidais básicas) e pelos alcaloides tropânicos.


Na composição química da jurubeba estão presentes os alcaloides esteroidais. Também chamada de saponinas esteroidais básicas ou glicoalcaloides quando ligados a açúcar, funcionam como um marcador quimiotaxonômico do gênero. Em linhas gerais, os alcaloides esteroidais observados na família Solanaceae são baseados em um esqueleto C-27 colestano e de acordo com as características do núcleo esteroidal.


Estudos farmacológicos indicam que o extrato de raízes de S. paniculatumfoi capaz de inibir a secreção gástrica em camundongos, além de ser eficaz contra úlcera induzida por estresse, atividades relacionadas à alta concentração de alcaloides esteroidais do tipo 3-aminoespirostano. Assim, a atividade antiúlcera dos extratos vegetais parece estar diretamente relacionada a uma potente atividade anti-secretora. Nenhum sinal tóxico foi observado após a administração de diferentes extratos de até 2 g/kg de peso corporal. A literatura mostra um excelente potencial farmacológico de S. paniculatume os estudos fitoquímicos ainda necessitam ser mais explorados, buscando outras possíveis moléculas envolvidas na atividade farmacológica.


Os alcaloides esteroidais desempenham papel importante na defesa natural das plantas, pois são capazes de desestabilizar membranas biológicas e proteger o vegetal contra o ataque de bactérias e fungos. As propriedades farmacológicas da S. paniculatumpara o tratamento de disfunções hepáticas são cada vez mais frequentemente estudadas, assim como as pesquisas relacionadas a sua toxicidade. São ainda necessários ensaios de absorção, distribuição, metabolismo e excreção.


A RDC nº 10/2010, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, já revogada, incluía a S. paniculatumcomo espécie passível de ser tratada como droga vegetal sujeita à notificação. A espécie encontra-se na RDC nº 26, de 13 de maio de 2014, na lista de espécies vegetais com restrições para o registro/notificação de medicamentos fitoterápicos e produtos tradicionais fitoterápicos, onde qualquer espécie do gênero Solanumpara uso interno não pode conter mais que 10 mg de alcaloides esteroidais. Doses acima da recomendada e por período acima do preconizado podem causar intoxicação, com sintomas como náuseas, vômitos, diarreia, cólicas abdominais, confusão mental, edema cerebral e morte.

Colunas - Slideshow
bottom of page