Na minha última coluna, embarcamos em uma expedição para o Suriname com a Maria Sibylla Merian. Dorothea Gsell, filha mais nova da Merian, embarcou junto, sendo auxiliar da sua mãe. Ela participou da expedição, ajudou no preparo das tintas, fez algumas ilustrações, observações e auxiliou na publicação de Metamorphosis Insectorum Surinamensis. Esse fato me chamou muita atenção quando comecei a estudar sobre a Maria Sibylla: uma expedição com mãe e filha? É tão raro encontrar colaborações entre duas mulheres na história da ciência e entre mãe e filha, eu só consigo lembrar da Marie Curie e Irène Joliot-Curie.

Fiquei curiosa como era essa relação, se Dorothea tinha suas próprias agendas e motivações científicas. Mas há pouquíssima informação disponível sobre ela. Sabe-se que ela foi treinada artisticamente pela mãe, assim como sua irmã mais velha, Johanna. Eu cresci com a minha mãe sentada do outro lado da mesa me ensinando a desenhar, pintar, modelar biscuit, decorar bolo e, mais recentemente, trançar apanhadores de sonhos. Será que foram momentos especiais compartilhados entre mãe e filha, como os meus? Ou será que era uma relação mais rígida e profissional?

Tanto Johanna quanto Dorothea auxiliaram a mãe em todas as suas publicações. Johanna fazia ilustrações botânicas comissionadas para Agnes Block, importante botânica da época. Também foi contratada pelo Hortus de Amsterdã e ilustrou aquarelas de plantas exóticas e raras. As três moraram anos juntas, ilustrando, editando, vendendo e publicando.

A partir de 1711, Johanna Helena Herolt, seu nome após o casamento, morou no Suriname. Ela colecionou répteis, peixes e insetos, que vendeu a colecionadores na Europa e enviava para a sua mãe. Ela também estudou e pintou insetos e plantas, publicando um livro próprio sobre insetos do Suriname. Em 1714, após Merian ficar parcialmente paralisada devido a um derrame, ela retornou brevemente a Amsterdã para continuar a pintar sob o nome da mãe junto da irmã, tanto que várias imagens dela e da Dorothea foram incluídas em Metamorphosis Insectorum Surinamensis sem atribuição de autoria.

Após o falecimento da sua mãe, Dorothea se tornou responsável pelas publicações seguintes. Ela tornou-se professora de artes na Academia de Artes de São Petersburgo e conselheira de aquisição de artes do Czar Pedro. Inclusive negociando a venda dos desenhos originais e cadernos de estudo da Maria Sibylla Merian. Johanna continuou no Suriname até sua morte, ilustrando insetos e plantas. Gosto de pensar que Maria Sibylla Merian e suas filhas partilharam lado a lado sua curiosidade e paixão pela ciência e pela arte, que todas essas publicações se tornaram uma linda memória entre mãe e filhas.