Na natureza encontramos muitas classes de substâncias e algumas delas possuem algumas características bem peculiares e nesse contexto as saponinas merecem destaque. Talvez você nunca tenha ouvido falar do termo saponinas, mas com certeza, seja cozinhando ou andando pelas ruas,  já se deparou com alguma planta que contém essa importante classe de substâncias bioativas.

As saponinas são amplamente distribuídas na natureza. Elas são encontradas em raízes, tubérculos, folhas, flores e sementes de muitas plantas. Por exemplo, elas estão presentes no feijão, ervilha,  soja,  alcaçuz, ginseng, entre outros.

O primeiro composto pertencente a essa classe foi chamado de saponina por ter sido encontrado na saboeira (Saponaria officinalis L.), uma planta que era utilizada por mulheres da antiguidade, na lavagem de roupas, por formar  uma espuma em contato com a água. Dessa forma, o termo saponina passou a ser utilizado para nomear outras substâncias naturais que também possuíam a capacidade de formar espuma persitente em solução aquosa.

Nesse momento, você deve estar se perguntando o porquê as saponinas espumam, não é mesmo? Bem, isso ocorre porque suas moléculas são anfifílicas, ou seja, uma parte da molécula é lipofílica, formada por anéis triterpênicos ou esteroidais, e outra parte é hidrofílica, composta por açúcares. Devido a esta característica anfifílica, elas possuem a propriedade de reduzir a tensão superficial da água. Dessa forma, as saponinas possuem ação detergente e emulsionante, além de também causarem elevada toxicidade aos peixes (ação ictiotóxica).

As saponinas apresentam elevada massa molecular, o que torna sua estrutura química  complexa. Além disso, elas apresentam uma grande diversidade de atividades biológicas, algumas das quais podem ser prejudiciais para a saúde, como por exemplo, o potencial toxicológico e a atividade hemolítica. Porém, elas também apresentam uma grande quantidade de atividades benéficas para a saúde, como as atividades antifúngica, anti-inflamatória, antitumoral, redutora do colesterol, diurética, dentre outras, além de serem adjuvantes imunológicos em vacinas.

Como exemplo de efeito danoso, pode-se citar as saponinas presentes na planta conhecida como pita (Agave americana L.). É relatado que quando a seiva dessa planta entra em contato com a pele, pode ocasionar dermatite de contato devido à presença de oxalato de cálcio e saponinas. No entanto, o interessante é que tal toxicidade não interfere nas propriedades medicinais da planta. Através das folhas de Agave americana é produzido e vendido comercialmente o sabonete de pita, que é indicado para tratamentos dermatológicos, como coceiras, sarnas e micoses na pele.

A propriedade hemolítica é considerada um efeito colateral das saponinas e, se a capacidade de causar hemólise for muito alta, seu uso como fármaco fica restrito. Uma saponina com atividade hemolítica conhecida é a QS-21, encontrada na planta Quillaja saponaria Molina.Tal saponina, apesar de ser hemolítica, apresenta propriedade adjuvante imunológica e por isso é utilizada comercialmente em vacinas veterinárias.

Muitas saponinas apresentam ação  antifúngica, como por exemplo a saponina encontrada  em bulbos de cebola branca (Allium cepa L.). Estudos indicam que tal saponina apresenta efeito bioativo eficiente frente ao fungo Aspergilus niger.

A atividade anti-inflamatória de saponinas é conhecida há muito tempo e como exemplo, pode-se citar as saponinas encontradas nas sementes da castanha-da-índia (Aesculus hippocastanum L.) e no alcaçuz (Glycyrrhiza glabra L.). Já como exemplo de saponina antitumoral, tem-se a platycodina D, encontrada nas raízes de Platycodon grandiflorus (Jacq.) A.DC., substância  amplamente estudada, que mostrou-se eficiente no combate de diferentes tipos de tumores.

Destaca-se também que, apesar de estarem presentes  principalmente  nas plantas, existem algumas saponinas que são encontradas em organismos marinhos, mostrando assim a grande diversidade dessa classe de produtos naturais. O uso de saponinas encontra-se ainda crescente na indústria de cosméticos, sendo utilizadas  como tensoativos naturais em produtos de higiene, loções e xampus.