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Sobre Twitter, chá de boldo e responsabilidades como divulgador

Lucas Greenhalgh
20 de agosto de 2020
Revisão: Leopoldo C. Baratto

Nesses primeiros meses de divulgador científico no Twitter, me deparei com algumas questões que inevitavelmente me fazem refletir sobre temas como a própria essência da ciência e a minha responsabilidade como divulgador, particularmente em fitoterapia e plantas medicinais.


Há pouco tempo, um dos principais divulgadores da comunidade de divulgação científica na plataforma ressaltou a necessidade de trazer o conhecimento científico pra uma dimensão material (no sentido de tornar esse conhecimento menos abstrato) para o público em geral. Para quem divulga plantas medicinais, essa tarefa pode não ser tão difícil devido ao fato de plantas serem, justamente, a forma mais acessível de tratamento em saúde para a maior parte da população mundial (como bem apontado pela Organização Mundial da Saúde), portanto estando constantemente integradas na vivência da maioria dos povos. Tal fato, por sua vez, desperta uma segunda problemática: divulgar em plantas medicinais é, em sua essência, divulgar em saúde e o conhecimento passado pode tanto ajudar na prática da cura quanto na piora do dano ou elevação do risco, dependendo da qualidade da informação e do informador (divulgador).


Em outras palavras: divulgar em plantas medicinais é fazer educação em saúde, trazendo a importância do divulgador de reconhecer as necessidades do indivíduo dentro de um contexto e ajudá-lo a se emancipar dentro de sua noção de ser e agir para sua própria saúde.


O entendimento de “indivíduo” não pode se limitar ao ser biológico apenas, mas também o ser político, histórico, psicológico, econômico e social. Um ser dentro de uma família, com crenças, ideias e realidades individuais. Ao tomar noção da complexidade dos componentes do contexto individual, o divulgador deve observar que a ciência, como método de geração de conhecimento, moldada ao pensamento ocidental, jamais vai ser capaz de compreender a totalidade do indivíduo.

Ao divulgar em plantas medicinais, erra aquele que recorre exclusivamente aos dados frios de estudos pré-clínicos, ensaios in vitro e doses eficazes, expressos em uma linguagem academicista, elitista, portanto inacessível, distante e abstrata a quem mais precisa.


O divulgador deve lembrar que antes da boldina demonstrar atividade antioxidante no fígado, protegendo-o contra a ação de espécies reativas de oxigênio que peroxidavam lipídeos de microssomos e inibiam a atividade da citocromo P450, o boldo já era uma planta amarga, cujo chá era capaz de curar os “problemas do fígado”.


Torna-se importante para o divulgador em plantas medicinais a inclusão de conhecimentos etnográficos e etnológicos (materializados na Etnobotânica e Etnofarmacologia) no seu arsenal de informações importantes a serem compartilhadas com responsabilidade e integridade, permitindo melhor assimilação, valorização e preservação do conhecimento tradicional.


Observada a importância dessas práticas, se tornam pontos de extremo valor para a saúde pública e conservação da cultura e do conhecimento tradicional a consolidação das Política Nacional de Fitoterápicos e Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, e refletindo na criação e implementação, por exemplo, do Formulário Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, além da RDC de Registro de Fitoterápicos (RDC 26/2014 da Anvisa), considerando, por exemplo, critérios de tradicionalidade de uso como prova de eficácia e segurança, e da regulamentação das práticas integrativas e complementares, promovendo o acesso e uso racional de todos esses tipos de tratamento.


É importantíssimo que o divulgador tenha noção da importância do conhecimento que é passado na dimensão das práticas de promoção e educação em saúde e reconheça sua responsabilidade com o indivíduo interlocutor inserido dentro de um contexto, se integrando à prática de Educação Popular em Saúde, idealizada por Eymard Mourão Vasconcelos.

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