Este site pertence a Leopoldo C. Baratto, fundador e coordenador do PlantaCiência. 2019. O potencial diurético da cavalinha
top of page

O potencial diurético da cavalinha

Hélio de Mattos Alves
22 de junho de 2023

O gênero Equisetum, da família Equisetaceae, é  amplamente distribuído em todo o mundo e pode ser o gênero que não foi extinto mais antigo da Terra. Existem cerca de 30 espécies conhecidas neste gênero. O uso tradicional mais difundido das espécies de Equisetum é como diurético, seguido pelo tratamento de doenças geniturinárias (doenças renais, uretrite, cálculos renais e outras), inflamação, cicatrização de feridas, doenças reumáticas, prostatite e hipertensão. A espécie mais popular do gênero com uso medicinal é a Equisetum arvense L. (Figuras 1-5), cujo efeito diurético foi confirmado em modelos animais e ensaios clínicos.


A espécie E. bogotense Kunth também demonstrou o efeito benéfico da indução de diurese em ensaios experimentais e clínicos. Várias outras espécies também têm sido estudadas quanto ao seu potencial terapêutico, apresentando diferentes ações biológicas.


As espécies do gênero Equisetum são conhecidas pelo nome comum de "horsetail" nos países de língua inglesa, "cola de caballo" nos países de língua espanhola, "prêle des champs" na França, "Ackerschachtelhalm" na Alemanha, "tsukushi" no Japão e "cavalinha" no Brasil.


Em relação à composição química, E. arvensecontém alcaloides, flavonoides, fitosteróis, saponinas, esteróis, ácido silícico, taninos, triterpenoides e óleos voláteis.


Uma avaliação sobre a hepatotoxicidade aguda de E. arvense, em ratos, nas concentrações de 30, 50 e 100 mg/kg não apresentou mortalidade em nenhuma das doses ao final dos 14 dias de observação, nem alterou a atividade sérica das enzimas hepáticas em relação ao grupo controle. Não foi detectada toxicidade relacionada aos sinais clínicos, peso corporal, urinálise, hematologia, dados bioquímicos séricos, pesos dos órgãos e achados histopatológicos. Ainda assim, preparações farmacêuticas contendo E. arvense não são recomendados durante a gravidez ou amamentação, uma vez que pouca informação está disponível sobre sua segurança.  E. arvensepossui tiaminase, enzima que destrói a tiamina (vitamina B1) e, com o uso prolongado, poderia levar à deficiência de vitaminas, possível causa de neurotoxicidade.


O efeito diurético de um extrato seco padronizado de E. arvense foi monitorado através do balanço hídrico de 36 voluntários saudáveis do sexo masculino. Durante quatro dias seguidos, os autores administraram o equivalente a 900 mg/dia de extrato, placebo (amido de milho, 900 mg/dia) ou hidroclorotiazida (25 mg/dia).  O extrato de E. arvense foi capaz de induzir significativamente diurese semelhante ao grupo hidroclorotiazida, sem desencadear variações importantes na eliminação de eletrólitos. Os exames clínicos e laboratoriais não mostraram alterações antes ou após o teste, sugerindo que o extrato de E. arvense é seguro para uso agudo. No entanto, apesar dos resultados promissores, mais testes clínicos são necessários para elucidar seu mecanismo de ação diurética.


Alguns compostos isolados de espécies do gênero Equisetummostraram efeitos benéficos em relação a capacidade de induzir diurese. Um exemplo é o flavonoide luteolina, encontrado nas partes aéreas, o qual que induziu efeito diurético e natriurético em ratos normotensos e hipertensos, sem interferir no pH urinário e nos níveis de K+ou Cl-. Este estudo também demonstrou o envolvimento da luteolina (Figura 6) sobre os receptores muscarínicos de acetilcolina para desencadear efeitos renais.  Além disso, há relação da isoquercitina (Figura 7) na atividade diurética, também encontrado nas partes aéreas de E. arvense.


Outro composto fenólico que é encontrado nas espécies E. giganteum, E. ramosissimum eE. debile é o ácido ferúlico (Figura 8) que tem sido relatado como nefroprotetor em muitos estudos realizados em animais. Ele demonstrou reduzir o dano oxidativo hepático e renal induzido pelo cádmio, bem como na hiperglicemia. Além disso, o ácido ferúlico melhorou tanto o relaxamento dependente do endotélio em anéis aórticos torácicos isolados quanto o equilíbrio antioxidante no coração e nos rins.

Finalmente, podemos sugerir que esses compostos, pelo menos em parte, parecem contribuir para os efeitos farmacológicos descritos por essas espécies. No entanto, muitos compostos ainda não foram objeto de estudos que visem especificamente essas atividades biológicas, de modo que há um campo frutífero a ser explorado no futuro. Muitos estudos são necessários para avaliar tanto o potencial farmacológico quanto a segurança de utilização das preparações. Poucos estudos de toxicidade in vivo foram realizados até agora para a maioria das espécies, portanto, não há consenso sobre a dosagem efetiva e tóxica. Assim, muitas espécies precisam ser exploradas em detalhes para a validação científica do uso popular para induzir diurese e tratar doenças renais e outras doenças associadas. Os potenciais efeitos benéficos dos minerais presentes (Mg, Si, K, Ca, P, Mn, Cu, Zn), também devem ser considerados nos estudos de eficácia e segurança. Tem sido relatado na literatura   que as interações e efeitos sinérgicos entre os vários componentes que coexistem em produtos naturais estão correlacionados com seu potencial impacto positivo.


Recentemente a ANVISA emitiu um alerta a respeito de produtos com a marca "50 Ervas Emagrecedor", que estão proibidos no país desde 2020, por não estarem regularizados como medicamentos. O comércio de produtos com propriedades terapêuticas não autorizados pela ANVISA é uma atividade clandestina.  Esse produto vendido como suplemento alimentar não pode ser classificado como alimento, ou mesmo como suplemento alimentar, pois contém ingredientes que não são autorizados para o uso em alimentos. Entre esses componentes estão o chapéu-de-couro, cavalinha, douradinha, salsaparrilha, carobinha, sene, dente-de-leão, pau-ferro e Centella asiatica. Essas espécies vegetais têm autorização para uso somente em medicamentos, como fitoterápicos, e não em suplementos alimentares.


Em tempo, a cavalinha faz parte da Relação Nacional de Espécies de Interesse para o SUS (RENISUS) e está presente na 2ª edição do Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira.

Colunas - Slideshow
bottom of page