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Perigos no jardim: a química das plantas ornamentais tóxicas

Gabriela Moysés
25 de julho de 2023

Desde que o mundo é mundo, o ser humano sempre teve uma forte relação com as plantas, seja para utilizá-las na produção de cosméticos, medicamentos, vestimentas ou simplesmente para cultivá-las com finalidade alimentícia ou ornamental. A presença de plantas ornamentais em jardins, estabelecimentos e em vias públicas é comum e proporciona uma beleza natural ao ambiente, além de conferir uma sensação de bem-estar para as pessoas. No entanto, apesar de toda a beleza que as plantas ornamentais possuem, pouco se discute sobre o quanto algumas delas são perigosas para seres humanos e animais.


As plantas, assim como todos os seres vivos, possuem inúmeras substâncias químicas. Tem-se os metabólitos primários, que são substâncias essenciais para a manutenção da vida da planta, e os metabólitos secundários, que estão relacionados a mecanismos de proteção da planta contra predadores e patógenos. Espécies vegetais consideradas tóxicas produzem metabólitos secundários, os quais através de inalação, ingestão ou contato direto com a pele, mucosa e olhos podem causar danos à saúde. As principais vítimas de envenenamento por plantas são crianças e animais de estimação. Dentre as principais substâncias químicas responsáveis pela toxicidade das plantas, destacam-se os alcaloides, glicosídeos cardioativos, glicosídeos cianogênicos, taninos, saponinas, oxalato de cálcio e toxialbuminas.


Será que no bairro onde você mora há muitas plantas tóxicas? A resposta provável é que sim, afinal muitas plantas ornamentais tóxicas podem ser facilmente encontradas em quintais e praças da cidade. Talvez você mesmo tenha uma planta tóxica em sua casa e desconheça. Como exemplo de espécies tóxicas ornamentais comuns de serem encontradas tem-se: espada-de-são-jorge (Dracaenaspp.), comigo-ninguém-pode (Dieffenbachia ssp.), tinhorão (Caladium bicolor), copo-de-leite (Zantedeschia aethiopica), espirradeira (Nerium oleander), avelós (Euphorbia tirucalli), poinsétia, flor-de-natal ou bico-de-papagaio (Euphorbia pulcherrima), dentre outras.


As diferentes espécies ornamentais do gênero Dracaena (antigo gênero Sansevieria) são conhecidas popularmente como “espada-de-são-jorge” por apresentarem folhas estreitas, duras e aguçadas no ápice que lembram uma espada. Sua toxicidade é devido a presença de cristais de oxalato de cálcio, ácidos orgânicos e saponinas. Em contato com a pele, Dracaena spp. pode ocasionar dermatites e se ingerida, os cristais de oxalato de cálcio podem causar, dependendo da dose, desde irritação na garganta até obstrução na garganta e glote, levando a asfixia e morte se a pessoa não for socorrida a tempo. Toxicidade semelhante ocorre com Dieffenbachia ssp., conhecida popularmente como “comigo-ninguém-pode”. Tal planta possui seiva leitosa, de odor pungente que causa irritação nas mucosas, ela apresenta alta concentração de cristais de oxalato de cálcio em formato de agulhas.  O efeito tóxico da Dieffenbachia ssp. ocorre principalmente por via ocular, dérmica e oral. Quando em contato com os olhos, ocasiona dor severa, inchaço, lesão da córnea e conjuntivites. Em contato com a pele, causa desde dermatites moderadas até queimaduras severas. A ingestão pode causar dor, edema da língua, vômitos e diarreia.  Além disso, como também ocorre com Dracaena spp., há relatos de casos fatais ocasionados por asfixia devido a ingestão de Dieffenbachiassp. As plantas de nome popular “tinhorão” e “copo-de-leite” também são outros exemplos de espécies que apresentam toxicidade devido a presença de oxalato de cálcio.


Apesar de ser muito comum na arborização urbana, a planta conhecida popularmente como “espirradeira” é considerada uma das plantas mais tóxicas do mundo. Ela é encontrada com muita facilidade, pois é pouco exigente em relação a clima e solo. Ela é um arbusto com flores que podem variar de brancas, róseas ou vermelhas. Sua toxicidade é devido a presença de glicosídeos cardioativos que estão em todas as partes da planta, além de cristais de oxalato de cálcio. A substância oleandrina é o glicosídeo cardioativo majoritário e se ingerida em altas doses, a planta pode provocar parada cardíaca e morte.


A espécie Euphorbia tirucalli, conhecida como “avelós”, é utilizada há muito tempo por nossos ancestrais, como forma de tratamento alternativo para algumas doenças. É dito na literatura que os extratos etanólicos do caule e o látex diluído em água são usados na medicina tradicional para o tratamento de verrugas, tumores, picada de animais peçonhentos, entre outros. No interior da planta é encontrado um látex, de coloração branca, cáustico e extremamente irritante em contato com a pele e mucosas. O avelós pode provocar desde pequenas lesões até queimadura e necrose na pele. Em contato com os olhos pode ocasionar cegueira, caso a vítima não tenha pronto atendimento. Em caso de ingestão pode provocar vômitos, diarreias e hemorragias. Pesquisas apontam que o látex de E. tirucalli é rico em substâncias que conferem toxicidade e ação antitumoral à planta. Dentre as substâncias de maior interesse farmacológico estão os diterpenos do tipo tigliano (ésteres de forbol), que conferem efeito toxicológico, além dos diterpenos do tipo ingenano (ésteres de ingenol) e do triterpeno eufol que conferem ação terapêutica.


Muito utilizada em decorações natalinas, a planta conhecida como “poinsétia” ou “flor-de-natal” é outra representante do gênero Euphorbia. Tal espécie devido a sua exuberante coloração verde e vermelha é uma das preferidas para arranjos e enfeites natalinos. No entanto, a planta é tóxica e muitas pessoas desconhecem. A intoxicação por poinsétia pode ocorrer durante a poda ou ingestão acidental. O látex da planta ao entrar em contato com a pele e mucosas pode ocasionar edema, coceira e dor. Em contato com os olhos, pode causar dificuldade na visão e em caso de ingestão pode levar a náuseas, vômitos e diarreias.


É notório que uma ornamentação natural deixa o ambiente mais harmonioso e bonito. Cuidar e apreciar jardins é uma prática comum, pois o contato direto com a natureza faz bem ao homem. No entanto, devido a toxicidade que algumas plantas possuem é de extrema importância que as pessoas busquem ter conhecimento de quais espécies estão presentes em seus jardins para evitar acidentes que muitas vezes podem ser fatais.

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