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Salsaparrilha (Smilax spp.): aspectos químicos e medicinais

Hélio de Mattos Alves
28 de abril de 2021

As espécies do gênero Smilax são abundantes nas Américas, encontradas desde o México até o Sul do Brasil. No Brasil encontramos 32 espécies do gênero Smilax (família Smilacaceae), sendo que oito delas possuem propriedades medicinais. Consta da 1ª edição da Farmacopeia Brasileira, de 1929, escrita pelo farmacêutico Rodolpho Albino Dias da Silva, as seguintes espécies: Smilax longifolia Rich. (syn. Smilax papyracea Poiret), S. schomburgkiana Kunth (syn. S. syphilitica Griseb.), S. quinquenervia Vell. (syn. S. officinalis Griseb.) e S. aristolochiifolia Mill. (syn. S. medica Schltdl. & Cham.). Essas espécies, denominadas como salsaparrilha, são descritas de acordo com o modo como as raízes são amarradas em feixes: "feixes cilíndricos formados de raízes cortadas em pedaços do mesmo comprimento, que atingem até 1,5 m, colocadas paralelamente e amarradas por cipó; feixes cilíndricos, mais ou menos compactos, de comprimentos e diâmetros variáveis, formados de raízes cortadas e envolvidas por outras da mesma planta; ou ainda, feixes desatados ou comprimidos em pacotes, sendo que cada feixe contém de 20 a 30 raízes dobradas e fixadas a uma cepa com um ou mais rizomas grossos". Além da observação da maneira como os feixes de raízes são amarrados, a distinção entre as espécies também se baseia em características como comprimento e coloração externa das mesmas, bem como pela proporção entre os tecidos do córtex e cilindro vascular em secção transversal. São atribuídas pelo uso popular as seguintes atividades para as suas raízes: propriedades anti-inflamatórias, diuréticas, depurativa, estimulante e tonificante, podendo ser usadas para auxiliar no tratamento da gota, pois promove a eliminação do excesso de ácido úrico; aliviar os sintomas e auxiliar no tratamento de artrite e reumatismo, devido às propriedades anti-inflamatórias da planta; estimula a produção e liberação de urina; auxilia no combate a infecções; ajuda na recuperação muscular, podendo ser utilizada em bebidas energéticas naturais. Outras atividades alegadas estão relacionadas a doenças de pele, como acne, herpes e psoríase.


Os extratos hidrofílicos de espécies do gênero Smilax possuem altas concentrações de compostos fenólicos, com destacada atividade antioxidante. Alguns compostos polifenólicos presentes em Smilax spp. são: tricina, heleniosídeo A e B, quercetina, rutina, kaempferol, antocianinas e catequinas. Estes extratos são ricos em flavonoides, que possivelmente seriam responsáveis pela inibição da peroxidação lipídica, apresentando atividades de sequestro de radicais livres e quelante de ferro. Portanto, as folhas da planta poderiam ser consideradas como uma fonte de antioxidantes naturais significativa. De um modo geral, as espécies de Smilax produzem também grande quantidade e variedade de saponinas, entre elas os sarsaparilosídeos. Smilax officinalis, comum na Mata Atlântica, apresenta saponinas com grande poder adjuvante em vacinas, mas também com grande potencial hemolítico.


Existe uma grande necessidade de ampliação de estudos etnobotânicos, fitoquímicos, farmacológicos e agronômicos das diversas espécies de Smilax nacionais, principalmente estudos sobre os seus efeitos tóxicos e adversos, as possíveis interações com outros fármacos e outras plantas, além de estratégias mais adequadas para o controle de qualidade e produção de fitoterápicos, atendendo às novas normas das agências reguladoras, como as resoluções da ANVISA.  Existem notificações no NOTIVISA que relatam febre, icterícia, cefaleia, náusea, vômito e tontura após o uso de uma associação de S. lonfigolia e Colocasia esculenta (L.) Schott; uma notificação de urticária, após uso de uma associação de S. longifolia, tiamina, Jacaranda caroba (Vell.) DC. e Cayaponia tayuya (Vell.) Cogn.; e relatos de distúrbios gastrintestinais quando utilizadas altas doses de S. longifolia. Várias preparações farmacêuticas de Smilax spp. autorizadas pela ANVISA como suplemento alimentar foram proibidas por não estarem dentro da resolução sobre propagandas, pelo fato de atribuírem alegações terapêuticas.

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